Quando um cliente procura fazer Psicoterapia???
Geralmente
já tentou outras alternativas: remédios que não fizeram efeito, exames que não
deram nenhum resultado, viagens que não trouxeram a mesma alegria de antes,
práticas religiosas que não deram a melhora esperada.E é assim que ele chega ao
consultório: sua motivação principal é sair do sofrimento em que se encontra.
Quando o cliente vê a Psicoterapia como sua última alternativa, pode despertar
no psicólogo iniciante muita preocupação em não ser mais um na lista dos
profissionais procurados.Para não entrar nessa angústia que é do cliente, é
preciso esclarecer que o fato deste querer sair do seu sofrimento não quer dizer
que queira fazer mudanças em sua maneira de ser. Para o psicólogo isso quer
dizer a mesma coisa, uma vez que para ele, não há como sair do sofrimento sem
que haja mudanças internas no indivíduo. Acontece que para o cliente a questão
não é vista dessa forma. Para ele, o psicólogo já tem a solução para aquilo que
ele busca, já possui o alívio para a dor que ele sente. Não é à toa que
freqüentemente o psicoterapeuta se vê numa situação difícil quando seus clientes
novos o empurram contra a parede perguntando: "Tudo bem, eu já entendi tudo,
mas, e então?! Como é que eu faço?" Quando o psicoterapeuta não tem essa
resposta na ponta da língua, o cliente se decepciona, fica com raiva, e pode até
abandonar a psicoterapia. Provavelmente deve pensar: "ora, mas se ele que é o
psicólogo, não sabe como eu vou sair dessa, o que é que eu vou continuar fazendo
aqui?"Para o cliente a psicoterapia pode ser a sua salvação. Não raro, o
psicólogo pode se colocar como o salvador. Mas esse tipo de relação deixa de ser
terapêutica, por não oferecer condições para o cliente se libertar. Dessa forma
mantém o cliente na posição daquele que foi salvo, aprisionando-o à sua própria
dificuldade de se tornar autônomo.Tudo isso poderia ser diferente se ambos
estivessem conscientes dessa diferença de ponto de vista, do âmbito e do limite
da responsabilidade de cada um no processo terapêutico. Cabe ao psicólogo
compreender a angústia do cliente, mas deixá-lo com ela para que, a partir
desta, faça as mudanças necessárias. Cabe ao cliente conscientizar-se de sua
responsabilidade no processo de mudança pessoal. Apropriar-se tanto de sua
angústia como de quaisquer outros sentimentos produzidos por ele mesmo e que de
maneira nenhuma serão retirados pelo psicoterapeuta.Mudanças sempre são vistas
como algo terrível e assustador, principalmente porque são indicadoras de que
algo anteriormente não estava indo tão bem. Ora, se mudar pode significar
melhora, por que o cliente sofre tanto quando esta se processa?Pode ser, em
primeiro lugar, porque para o cliente não é clara a diferença entre o que em si
mesmo é autêntico e o que não é. Mudar, é antes de mais nada transformar o que
há de inautêntico. Para ele, que não tem essa diferenciação consciente, ser
confrontado e romper com essa ambivalência, gera grande sofrimento porque é como
se estivesse sendo atacado em seu centro. Este é o momento mais delicado, ao meu
ver, da relação cliente-psicoterapeuta, pois se a confiança não for sólida, o
cliente não suporta esses abalos e rompe seu processo psicoterápico. Como se
saindo da situação terapêutica pudesse negar sua necessidade de mudança.Para o
psicoterapeuta é um momento de ter bastante cuidado, pois sem a paciência
necessária, deixa de ajudar seu cliente. Pode, com sua ansiedade, acelerar o
processo que necessita de tempo exato para ocorrer a tão esperada transformação.
É o momento de não julgá-lo, nem de apressá-lo. O interessante é que neste
instante a vida do cliente fica em suspenso. Os acontecimentos externos se
tornam bem pequenos e o tema da psicoterapia passa a ser se ele continua daquele
jeito ou não.Outra possibilidade, é que mudar necessita esforço. Muitos clientes
gostariam de melhorar magicamente. Outros imaginam até que essa mudança vai se
dar de repente, como se não fosse um processo. Como se ao acordarem num
determinado dia, depois de um tempo de psicoterapia, estivessem prontos,
mudados. Mudar implica em viver perdas, para abrir a possibilidade dos ganhos.
Será que aquele que vive e respira sofrimento, está realmente disposto (= sair
do posto, sair de sua posição) a enfrentar tudo isso?Ainda exemplificando
situações de mudanças, me chamam atenção os clientes que ao se depararem com
aquilo que realmente são, sentem-se pressionados a mudar, mas não porque
realmente desejam isso para seu crescimento e proveito próprio, mas porque está
"errado" ser assim. Mais ainda, quando percebem que não são aceitos desse jeito
de ser "errado", ao invés de perceberem que podem se modificar, vêem-se na
impossibilidade de existir! Na sua maneira de pensar, entendem que "se eu não
sou aceito desse modo, eu então não posso ser, porque não sei ser do outro
jeito!"Antes de fazer qualquer mudança é preciso inicialmente, que o cliente se
dê conta de como está sua vida. De como são suas relações no mundo. Como vem
realizando suas escolhas, se tem atendido às suas decisões ou se à dos outros.
Se tem aproveitado a vida, feito dela o melhor que pode. Se ocupa seu tempo com
ações que o deixem feliz, se tem um projeto de vida, se suas atitudes são
coerente com esse projeto, enfim, é necessário ter um panorama de seu estado.A
partir dessa conscientização, o cliente pode lamentar-se muito. Às vezes leva um
grande tempo se culpando por não ter visto nada disto antes.Depois aceita porque
se vê como responsável (e não mais culpado), por sua vida ter tomado essa
direção. E como foi ele quem escolheu esse caminho, pode agora escolher uma nova
diretriz de vida. Mais ainda, que essas mudanças ele pode fazer sempre que
sentir necessidade, que não depende do outro para isso, pois é livre para fazer
de sua vida o que considerar o melhor para si mesmo.
Geani Marina
Hostins
Psicóloga
CRP
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